domingo, 7 de fevereiro de 2010

Carta de Deus para uma Mãe

Ela deu um pulo assim que viu os cirurgiões deixarem o CTI. E perguntou:

- Como está o meu filho, doutor? Vai ficar bom?
Quando poderei vê-lo?

- Lamentamos, minha senhora. Fizemos o possível, entretanto o paciente não resistiu.

Sally falou, divagando:
- Por que razão as crianças pequenas têm câncer?
Será que Deus não se preocupa? Onde estavas Tu, Senhor, quando o meu garoto mais necessitava?!

Prático, sereno, o cirurgião indagou:
- Quer algum tempo com o seu filho? Uma das enfermeiras irá trazê-lo dentro de instantes, e depois será transladado para a Universidade.

Sally pediu à moça para ficar com ela enquanto se despedia do jovenzinho. Passou os dedos pelos cabelos ruivos dele.

- Quer um cachinho dele? Perguntou a enfermeira.
Sally abanou afirmativamente a cabeça ruiva.

A jovem cortou o cabelo, com uma ternura de mãe talvez, e colocou-o num saquinho plástico, que entregou a Sally.

- Foi ideia do Jimmy doar seu corpo à Universidade, porque assim talvez pudesse ajudar a outra pessoa. No início eu disse que não, mas ele foi mais esperto:

- Mãe, eu não vou necessitar do meu corpo depois que morrer. Talvez assim possa ajudar outro menino a ficar mais um dia com sua mãe.

&*&*&*&

Depois de ter passado os últimos seis meses no "Hospital Children's Mercy", em Los Angeles, Colorado, EUA, a advogada Sally Chapman, 33 anos, viúva, atravessou seus portais suntuosos pela última vez.

Humilde perante o infortúnio, colocou as coisinhas do filho no banco da frente, bem junto a si.

A viagem para casa, bastante difícil; e mais difícil ainda entrar na casa agora vazia e silenciosa...

Levou os pertences de Jimmy para o quarto dele, que dava para o sol e a lua.

Começou a colocar os carrinhos, soldadinhos e outros brinquedos exatamente nos lugares onde ele sempre os teve. Depois, cansadíssima, deitou-se na cama dele, agarrou a almofada e chorou, chorou, até que adormeceu.
Era quase meia-noite quando acordou e ao lado dela havia uma carta, que dizia:

Querida Mamãe,
Sei que vai ter muitas saudades minhas; mas não pense que me vou me esquecer de você, ou deixar de lhe amar só porque não estou por perto para puxar a sua saia e dizer: "TE AMO!"
Eu vou lhe amar cada vez mais, mãe, por cada dia que passe. Um dia vamos estar juntos de novo. Mas até lá, se quiser adotar um menino para não ficar tão só, por mim está bem.
Ele pode ficar com o meu quarto e as minhas coisas para se divertir. Mas se preferir uma menina, ela certamente não gostará
das mesmas coisas que nós, rapazes, gostamos.
Você vai ter que comprar bonecas e outras delicadezas que deleitam tanto as meninas, certo?
Não fique triste ao pensar em mim, pois estou bem. Este lugar é mesmo fantástico!
Vovó e vovô vieram me receber assim que cheguei, para me mostrarem tudo, mas demorará um tempão para eu conseguir ver tudo.
Os Anjos são mesmo lindos! Adoro vê-los a voar! E sabe de uma coisa? O Jesus daqui não se parece nada como os que
vemos nas fotos, aí na Terra. E as fotos tiradas por Deus mostram, no álbum celeste, um Menino Jesus sorridente, cativante, e superior em travessuras ao poema do Fernando. (*)
Embora isto, logo que O vi, sussurrei feliz: "É Ele!"

Jesus me levou a visitar Deus!
Sentei-me em Seu colo e falei com Ele, como se eu fosse uma pessoa importante. Foi quando confessei que queria escrever esta carta, para lhe dizer adeus e tudo o mais.
Ora, eu já sabia que tal não era permitido. Mas sabes uma coisa mãe?...
Deus entregou-me este papel e a Sua caneta pessoal para eu lhe escrever. E teve momentos em que segurou minha trêmula mão.
Acho que Gabriel é o anjo que vai entregar a carta.

Deus disse para eu lhe responder, mãe, a uma das perguntas que, em desespero, você Lhe fez:

"Aonde estava Ele quando eu mais precisei?!"

E assegurou que se encontrava no mesmo sítio, tal e qual, quando o filho Dele, Jesus, foi crucificado. Ele estava presente, como antes, agora e sempre, junto a todos os Seus filhos.

Bom, eu preciso devolver a caneta, para Ele poder continuar a escrever no Livro da Vida...

Esta noite vou jantar na mesma mesa com Jesus. Tenho certeza de que a comida vai ser boa, como a sua.

Ah, ia me esquecendo: já não tenho dores,
calafrios nem tremores: o câncer foi embora.
Ainda bem, porque já não aguentava mais e Deus também não podia ver-me assim; foi quando Ele enviou o Anjo da Misericórdia para ir me buscar.

Paz, Mãe.

Fim


(*) Eis o poema pessoano:
Num Meio-Dia de Fim de Primavera

Enviado por Beatriz Pessoa - bia.pessoa7@hotmail.com
Sem indicação de autor ou tradutor.

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