domingo, 7 de fevereiro de 2010

Dóceis Gestos

Leio às vezes poemas ternos demais, puros demais, comuns demais, aos quais faltam dimensão artística, abissalidade, marcas de sofrimento, e onde predominam versos de uma frivolidade impressionante.
Uma avenida de tolices literárias, em alta velocidade, colidindo com o bom-gosto e a inteligência. Que mesmice! Que monotonia! Que "xerox" de outros milhares de versos semelhantes, puro lixo virtual! Poucos achados poéticos. E ainda assim, mal expressos. Pobres de recursos estilísticos e tão desimaginados...

Meu poeta:
Sinta-se seus eventuais leitores: acha que ficarão leves, felizes, ao deparar com tamanhas pieguices? Você sem dúvida pensa que amou e acredita que sofre. Não, não: quem se imola de amor descobre-se imortal, revolvendo cada palavra cravada, arrancando-a e devolvendo-a em versos, que renascem sempre, ai ai.
Apenas seguem, esses mártires, a senda dos delírios; nada pedem, nem comentários.
Ora, protestará você: "Não é justo! Eu só pedi uma opinião! Ele me arrasou!"
É justo sim. E pouco. Tem mais: dos muitos milhares de escritores da Rede, menos de mil pedem, por ano, um comentário dos mais de 100.000 poemas disponíveis na Internet. Covardia? Timidez? Narcisismo?
Aquele tapinha cúmplice nas costas ("Bom! Muito bom!"), que nada acresce à sua literatura nem à Literatura, outros que o dêem.
Por que perderia eu a deliciosa chance de massacrá-lo, pisoteá-lo, empurrá-lo, enxotá-lo do excelso Olimpo?
Expulso-o deveras, para que sublime os maus-tratos e regresse em breve, triunfante e perene, por suas próprias pernas...
...Tenho no entanto uma outra proposta: que você, com suas agora esplêndidas asas verbais, não sobrepaire as escarpas, mas se mescle nelas, esses precipícios de criatividade. Tuas escarpas, nossa alegria...


Alertem-me por favor sobre qualquer tipo de erro. E obrigado por me lerem!

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