domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Ministra Desambientada

Doce Ministra:
Quantas árvores a senhora já plantou? Uma, duas, dez? Quantos milhões já viu morrer? E o que fez para salvá-las? Quantas ainda vai permitir que pereçam? Tem algum plano para impedir essa arborificina nacional, ou permanecerá na habitual inércia, na apatia consentida, na complacência cômoda que o poder concede?
Sabe a sábia ministra como tiram a pele de certos animais silvestres? --- Ainda vivos, após resgatá-los das armadilhas, colunas quebradas, sem defesa. Rindo ha ha ha.
A senhora é feliz? Dorme em paz? Sonha com o futuro? (Com qual futuro?)
A senhora existe?

Desempenhe melhor seu papel, Excelência. De que lado está, afinal? A Terra não é só sua. Nem só deles, que a devastam por prazer ou dinheiro.
Se o Poder a paralisou, desparalise o Poder! Mexa-se! Aja! Denuncie! Exija mais verbas e homens! Multidões imensas! Concursos já, Excelência! Cabeça erguida! Punhos cerrados! Revolta! Atitude! Grandeza! Onde sua milenar capacidade de indignação diante das injustiças, do horror, da covardia impune, doutora em
mundo?
Dirija esse caminhão de dignidade, coerência e ética de sua admirável militância: derrube limites salientes, sufoque caçadas proibidas, esmague contrabandos indecentes, incendeie incendiários, destrua tratores assassinos de árvores-bebês --- zele pela família bichos/plantas/gente! Proteger é preciso, viver não é preciso. Seja mãe do indefeso verde.
Lembre-se, jovem e poética ministra: seus ideais agora convivem com onças, garças, jacarés, ipês e pantanais.
Leia e cumpra a Constituição Federal. Imprense o Presidente, sujeito sensível, sensato, bom. Faça algo, criatura-ministra! Não passe à História como uma ministra-nada, uma marina-vai-com-as-outras...

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Em breve não mais atravessarei rios amanhecendo, serras azuis e floridos campos delicados: serei os rios-música, as serras-paz e os campos petalados.
Sim, estou morrendo. (Um mês? Três meses? Apenas um comovido ateu nas suaves mãos de Deus...)
E eu tinha planos... um sonho...


(Para Dionísio Júlio Ribeiro, Soldado PM, ambientalista apaixonado, que tombou em combate defendendo a Reserva do Tinguá – RJ, Brasil)


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Notas:

1 - Na Coluna do Ancelmo Góis, O Globo, 31/03/2006):
“O passarinho bico-pimenta teve as asas quebradas de propósito, pelo caçador, para segurança comercial. O pessoal (da Secretaria do Meio Ambiente - Rio) o alimenta no bico. Após uma delicada operação, voltará a voar e ganhará a liberdade. O caçador covarde fugiu.”

2 - Fui injusto com a nobre ex-ministra e atual senadora pelo PT. Basta ver o descaso nacional (e o mais grave: as atitudes contraditórias do atual ministro, o sr. Carlos Minc) com o Meio-Ambiente. Estão vendendo e/ou doando todo o Brasil!
Alguém já disse: não existe meio ambiente: só ambiente inteiro. Assim como a Terra não tem lados: lados temos nós.

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