domingo, 7 de fevereiro de 2010

A César o que é de César...

Ora, o crítico não passa de um crítico; o escritor, de um escritor. Já os leitores, esses sobrepairam...

Nós somos simples passagem; eles, permanência e decisão. Eles sim transitam incessantemente, revezando-se no tempo -- século a século --, e decidem do valor da obra.

Invisível, impalpável e inalcançável é a glória. O artista não a vê, pega ou alcança; essa alta missão cabe aos leitores, que não a podem sinalizar já, nem talvez este ano, nem daqui a quarenta, ou sessenta, com ele ainda em vida.

E seu talento não o vê o literato, apenas o pressente. Aos interessados em seus trabalhos compete a tarefa de descobri-lo, convencer-se e convencê-lo do seu valor.

Que o escritor deixe o sofrimento, a angústia, a mais inconcebível solidão assentar no fundo de sua alma, e aí sim escreva.

Que deixe os amores acontecerem e desacontecerem. Que aceite a brisa, sabendo-a futuro vento e enfim vendaval. E só então escreva.

E reescreva, que as palavras são inúmeras e generosas. Elas mesmas lhe mostrarão o caminho da vitória --- vitória que só virá com as mais importantes distâncias, as mais profundas ausências.

Nenhum comentário: