domingo, 7 de fevereiro de 2010

José Bento Monteiro Lobato reconta a Mitologia Grega

Etimologia de "mito" e "mitologia":
Mito, s.m. (Do grego mythos - discurso, fábula).
1. Relato remoto e de fundo simbólico, versando sobre deuses, seres sobrenaturais e outras entidades lendárias ou populares como personagens.
2. Narrativa de tempos fabulosos ou heróicos; lenda.

Mitologia, s.f. (Do grego Mythologia).
1. Estudo metódico dos mitos.
2. Conjunto de mitos de uma cultura, disponibilizado pela tradição oral ou escrita.

Encontráveis em quaisquer culturas, os mitos, embora tidos como sagrados, subsistem entre a Razão e a Fé. Os mais proeminentes se referem à origem dos deuses, do mundo e ao fim das coisas.
Assim, distinguem-se mitos que:
a) narram o nascimento dos deuses (Teogonia)
b) falam da criação do mundo (Cosmogonia)
c) explicam o destino do homem após a morte
(Escatologia)
d) outros tipos há, menos relevantes.

De acordo com inúmeros estudiosos, eles sublimam fenômenos fundamentais da vida, como o Amor, a Morte, o Tempo...
Certos fenômenos (como as Florestas, as Tempestades) apontam para um valor simbólico homogêneo, qualquer que seja a civilização em estudo.

Os mitos gregos pertencem ao conjunto dos textos considerados clássicos ou canônicos, e os encontramos, lógico, também na Literatura Infantil Brasileira, metamorfoseados em profusas e opulentas adaptações.


Sobre Monteiro Lobato:
Procuramos não nos contentar com dados fragmentários, embora se torne difícil navegar nesse imenso mar de informações oriundo das fontes remanescentes da mitologia grega.
Almejamos, neste modesto trabalho, descobrir e interpretar as razões que motivaram a sua apropriação pelo nosso Monteiro Lobato.

O foco primordial das nossas análises envolve a produção lobatiana, sob seus aspectos lendários e míticos, remetendo-nos através de suas histórias à tão rica mitologia greco-romana.

Panorâmica, multifacetada, plena de referências cruzadas, recheada de críticas e denúncias sociais legítimas porque justas, Monteiro Lobato soube como ninguém revelar as mazelas tocantes à infância nacional, descrevendo o que via e o que sonhava vislumbrar.

Comparando, contrapondo personagens constantes de sua obra adulta com os infantis, observamos uma dicotomia trágica: enquanto em Negrinha, Urupês e Cidades Mortas adultos maus humilham e pisoteiam as crianças, pulverizando suas inocentes expectativas, a sua obra infantil (O Poço do Visconde, Gramática da Emília, Reinações de Narizinho etc.) as privilegiam, elevando sua auto-estima e autonomia de opiniões, atos e gestos.

Fundamental, em sua ficção, o espaço lúdico reservado à família, à educação e à imaginação como poder conquistado pela criança, para sempre a ela inerente.

O maravilhoso surge como simples cotidiano, pueril mágica do dia-a-dia, amparando-a, incentivando-a, fortalecendo e amadurecendo sua concepção de mundo.

Concebidos e transmitidos, a priori, por tradição oral, os mitos têm por função explicar (interpretando) fenômenos naturais, culturais ou religiosos, obscuros ao povo.

Abarcando rituais e cerimônias misteriosas, aliando-as ao acaso e às intempéries da Natureza, certos elementos induziam a massa a acreditar que signos, fatos, animais e homens preponderavam como verdades incontestáveis.

Essas crenças, cristalizadas na cultura popular, transitavam oralmente de gerações a gerações, em contextos de medo, pavor, milagres ou epifania.

Os mitos, já com a estatura de lendas --- portanto já intocáveis ---, migram para a Arte. Prova disto é a iconografia grega, incrustada em cavernas, esculpida em estátuas ou pintada em vasos --- à maneira de histórias épicas, heróicas ou líricas.

De idêntica forma, construiu-se a Literatura, que reconstitui, com excepcional grandeza e competência narrativa, os conceitos basilares de uma das mais fascinantes mitologias do mundo.

Poeticamente, narra essa escritura nascente as lendas, histórias e cânticos; descreve os deuses da Grécia antiga, ainda bem humanos; e estabelece, aos poucos e inteligentemente, uma hierarquia de seres e eventos.

Fazendo a conexão de seus nomes, epítetos e façanhas prodigiosas, de sua perdição ou sua glória sempiternas, os aedos gregos se compraziam em mesclar História com estórias.

Os pequenos heróis lobatianos, visitando a Grécia Antiga, presenciam o fim do pavoroso Minotauro e da hedionda Hidra de Lerna, mortos pelos semideuses Teseu e Hércules, respectivamente.

Decidem então acompanhar os outros onze trabalhos de Hércules, até auxiliando o herói a exterminar o terrível Leão de Neméia.

Relatando tais façanhas, Lobato na verdade pavimenta uma ampla avenida de palavras por onde desfilam, em triunfo, deuses, semideuses, heróis, heroínas --- todos já mitos, lendas ou entidades divinas ou fantásticas. E tudo numa linguagem adequada ao público infantil, elaborada, rica em detalhes relevantes.

Assim vimos Urano, esposo de Gaia e senhor do Universo; Cronos, filho dele com Gaia; Zeus, que destronou o próprio pai, Cronos, tornando-se a suprema divindade do Olimpo; Afrodite, a deusa do amor, nascida do Mar; Palas Atena, guardiã da serenidade e da sabedoria, sublime protetora dos lares; o Minotauro (com corpo de homem e cabeça de touro), simbolizando a inexorável fatalidade do destino humano; Posêidon, senhor de todos os Mares; Minos, rei de Creta; o arquiteto e inventor Dédalo; Teseu, voluntário valente que eliminou o Minotauro, livrando os atenienses de uma maldição; e tantos, tantos outros.

A Civilização Helênica brindou a Humanidade com um estuário de estórias mágicas, onde o espírito grego, eternamente jovem, descendo da alta morada dos deuses, se manifesta e nos encanta, consola e engrandece.

Cabo Frio, 06 de setembro de 2008.

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Trabalho do Curso de Pós-Graduação em Literatura
Infantil e Juvenil

Orientação das Professoras Doutoras:
Antonella Catinari
e Cristiane Madanêlo

Módulo: "Temas e Problemas"

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